PARANAPIACABA

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Vila Ferroviária de Paranapiacaba

terça-feira, 5 de outubro de 2010

ETEC JULIO DE MESQUITA - Santo André

UM POUCO DE HISTÓRIA

*respeite os direitos autorais*
Lei 9610 de 19 de fevereiro de 1998

Veja as imagens e leia o texto (Extraido da minha pesquisa de mestrado: http://www4.uninove.br/tedeSimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=258)




Respectivamente
1.Escola Industrial Julio de Mesquita, 1953. Col. Valter Rodrigues da Silva. Ac. MSAOAG
2. Rua Justino Paixão, à esquerda avista-se a Escola Industrial Júlio de Mesquita, 1968/69. Col. Octaviano Gaiarsa. Ac. MSAOAG.
3. Rua Justino Paixão, à esquerda avista-se a Escola Industrial Júlio de Mesquita, 1960/65. Col. Octaviano Gaiarsa. Ac. MSAOAG

A história da Escola Técnica Estadual Julio de Mesquita se confunde com a própria história do município de Santo André.
Em 1889 surgia o município, com sede em São Bernardo do Campo e os Distritos de Santo André, São Caetano do Sul, Ribeirão Pires e Paranapiacaba.
            A denominação Município de Santo André, em alusão à antiga e desaparecida Vila de Santo André da Borda do Campo, foi retomada apenas em 1910, com a criação do Distrito de Santo André, instalado em 18 de Abril de 1911 no então denominado Bairro da Estação, hoje centro de Santo André, região em torno da Estação Santo André – Prefeito Celso Daniel da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos - CPTM.
O Bairro da Estação, à época da criação do Distrito de Santo André, já se destacava como o principal pólo de industrialização do Município de São Bernardo. Atraía, ao mesmo tempo, fábricas de várias modalidades e um operariado vindo basicamente do interior do Estado e imigrantes, em sua maioria italiana, interessada em melhores condições de trabalho no parque industrial que se formava.
As terras planas ao longo do Vale do Rio Tamanduateí, a proximidade com a Capital Paulista, a facilidades de comunicação com a Baixada Santista, possível com a passagem da Estrada de Ferro São Paulo Railway[1], a SPR ou Inglesa, que começou a ser construída em 1860 e, os estímulos fiscais, foram alguns dos fatores que podem explicar o rápido crescimento do parque industrial de Santo André. Outra vantagem para o capital industrial era o baixo preço dessas terras, vítimas das constantes enchentes. No entanto o Tamanduateí e seus afluentes ofereciam uma alternativa de transporte e captação de água para o consumo industrial.
Com esses e outros incentivos, a industrialização se intensifica na década de 1910 e ganha projeção após a I Guerra Mundial. A força econômica, a maior arrecadação, e o maior número de trabalhadores localizavam-se em Santo André em virtude de estarem ali instaladas as repartições públicas pertinentes e importantes, bem como um número razoável de indústrias e estabelecimentos comerciais, além de grande densidade demográfica que privilegiavam o crescimento econômico e social.
No início do século XX, com o crescimento da industrialização, Santo André ganhou projeção no setor têxtil, moveleiro e químico, exigindo trabalhadores especializados.


Figura 1 - Grupo de operários da Companhia Streff
Rua Cel. Oliveira Lima, c. Década de 1920.


As indústrias têxteis estavam no auge, com uma produção em larga escala, com lucros vultosos e demanda significativa, tais como Ipiranguia e a Companhia Brasileira de Sedas Rhodiaseta, a Tognato e Tecelagem Ítalo Setti na vizinha Vila de São Bernardo, entre outras mais.
Em poucos anos, o Distrito Santo André[2] passou a ser a maior força econômica da região seguida por São Caetano, também servido por linha ferroviária, e só depois pela Vila de São Bernardo, sede do Município até então.
O Distrito de Santo André passou a abrigar muitas empresas, tais como: a Cia. Streff, grande fábrica de caldeiras e pequenos móveis. Em 1898 a firma Bergman, Kowarick e Cia. funda e constrói a fábrica de casimiras ao lado da Estação de Santo André, e assim outras grandes empresas foram se instalando, a Fiação e Tecelagem Santo André em 1908; a Companhia Rhodia: Indústrias Químicas e Têxteis em 1919; a Pirelli S.A. Companhia de Condutores Elétricos e a Fichet & Schwartz Hautmont, ambas em 1923; Atlantis do Brasil Unidade Fabril em 1924, entre outras que se instalaram ao longo da várzea do Tamanduateí.


Figura 2 - Fábrica de Casemiras Kowarick, situada junto á Estação
Hoje há um supermercado, década de 1920.


Em 25 de fevereiro de 1935, quando o ensino Profissional já funcionava regularmente, não apenas na capital, mas também em várias localidades do interior, cria-se na sede do Distrito de Santo André pelo Ato Municipal Número 132, e aprovado pelo Departamento de Administração Municipal, sob oficio número 55.631, de 10 de maio de 1935, a Escola Profissional “Dr. Julio Cezar Ferreira de Mesquita” cujo nome homenageava Júlio de Mesquita[3], jornalista que dirigiu o jornal O Estado de São Paulo. Mais tarde a escola foi reorganizada pelo ato 152 de setembro do mesmo ano, na gestão do Prefeito Municipal de São Bernardo do Campo Dr. Felício Laurito.
A emergente região precisava de mão de obra qualificada. Desde o início, a Escola Profissional Julio de Mesquita foi chamariz para as famílias e indústrias do emergente parque industrial da região, testemunhando as transformações econômicas e sociais da região.

O Jornalista Júlio de Mesquita, do Jornal O Estado de São Paulo, era muito amigo dos Flaquer, família abastada de muita influência política da provinciana cidade. Talvez Esso explique a escolha de seu nome para batizar o estabelecimento. Antigos funcionários da Escola lembram que o filho de Julio de Mesquita visitou muitas vezes a Escola. (GAIARSA, Octaviano A. 1963).

A escola em seus primeiros quinze anos de existência funcionou em diversos endereços no centro de Santo André.
Assim, em 1935 a escola denominada Escola Profissional Dr. Julio de Mesquita, destinava-se a atender o público feminino, localizando-se à Rua Campos Sales, esquina com a Rua Fernando Prestes e constituía-se de duas classes com capacidade para 77 alunas no período diurno e 69 no período noturno. Nesta época eram ministrados os seguintes cursos: corte e confecção, roupas brancas, rendas e bordados, flores, chapéus e artes aplicadas, economia doméstica, Química, desenho profissional e plástico, puericultura e higiene.
Todos os cursos continham as disciplinas de Geografia, Língua Portuguesa e História.
No segundo semestre de 1936, começaram a funcionar os cursos destinados ao público masculino, em prédio separado, que se localizava a Rua Xavier de Toledo, nos galpões da serraria da fábrica de geladeiras Pezzolo, com os cursos de mecânica, desenho e tecelagem. Neste ano a Escola passou a se chamar Escola Mista Profissional Júlio de Mesquita.

Figura 3 - Alunas e alunos da Escola industrial Julio de Mesquita

Em 1938, a sede municipal foi transferida para o Distrito de Santo André. Na década de 30 a cidade passou a brigar novas indústrias, aumentando seu parque industrial, Fixaram - se em 1936 a Laminação Nacional de Metais, em 1938 a Swift-Amouur S.A. e em 1939 a Firestone.
Ressentido a falta de espaço, em 1938, a seção feminina foi transferida para a Praça do Carmo, onde até hoje existe o prédio que abrigou a escola e neste endereço permaneceu até 1950.
No dia 15 de junho de 1948 foi aberta concorrência pública para a construção do novo prédio da Escola Industrial Julio de Mesquita, à Rua Justino Paixão, número 150, na área central do município, endereço onde se encontra até hoje. O terreno vizinho a antiga Chácara Bastos, atual praça V Centenário[4] era margeado pelo córrego Carapetuba, onde é hoje a Avenida Ramiro Colleoni. Na época o terreno dispunha de um lago utilizado para abastecer as locomotivas da ferrovia Inglesa, extinto após o processo de urbanização e impermeabilização.

Figura 4 - Escola Industrial Julio de Mesquita, 1953.

Figura 5 - Rua Justino Paixão, à esquerda avista-se a
Escola Industrial Júlio de Mesquita, 1968/69.

Em outubro de 1948 a prefeitura municipal de Santo André construiu o prédio principal projetado e coordenado pelo engenheiro chefe do Departamento de Obras Públicas Eng.º. Conrado Bruno Corazza (Custo: de Cr$ 3.100.000,00 a época), sob a administração direta da engenharia municipal. Após a solenidade de inauguração a seção feminina é a primeira a ser transferida.
A seção feminina foi a primeira a mudar para as instalações definitivas e atuais, na Rua Prefeito Justino Paixão, quando o prédio nem estava concluído. A seção masculina mudou para o novo prédio em 1959.

Figura 6 - Rua Justino Paixão, à esquerda avista-se a
Escola Industrial Júlio de Mesquita, 1960/65.

Em 1955 a escola foi incorporada pelo Estado de São Paulo, recebendo por escritura pública de doação, conforme convênio de 25 de junho de 1956 entre Estado e Prefeitura Municipal de Santo André a denominação de Ginásio Industrial Estadual Júlio de Mesquita.
Durante a sua história, em decorrência das reformas efetuadas na organização do ensino profissional, a instituição sofreu profundas mudanças em seus cursos, que a princípio, Confeccionais, Vocacionais e Profissionais passaram a ser Industriais.
Em 28 de janeiro de 1976, conforme Resolução S.E. Número 24-E de o Ginásio Industrial Estadual Júlio de Mesquita passa a se chamar Centro Estadual Interescolar Júlio de Mesquita.
Em 6 de fevereiro de 1982 o Decreto 18.421[5] incorpora ao CEETEPS[6] o Centro Interescolar, alterando sua denominação , que passa a vigorar como  Escola Técnica Estadual Júlio de Mesquita oferecendo o curso técnico concomitante ao Segundo Grau (atual Ensino Médio).

Figura 7 - Escola Técnica Estadual Julio de Mesquita, 2004.

A partir do Decreto n°. 2.208, publicado no dia 17 de abril de 1997, discutido anteriormente, na Julio de Mesquita o nível técnico passou a ser organizado de forma independente do Ensino Médio, ainda que permitida a complementaridade até o limite de 25% do total da carga horária mínima desse nível de ensino.
Em janeiro de 2007, a denominação Escola Técnica Estadual ETE é substituída por Escola Técnica ETEC, passando a vigorar com a seguinte redação: ETEC Julio de Mesquita. A razão para tal mudança ainda é incerta. As justificativas são inúmeras. Segundo alguns funcionários a razão para tal mudança deve-se ao fato de que a sigla ETE designa hoje, Estação de Tratamento de Esgotos, e por isso a substituição por ETEC no caso das escolas pertencentes a Rede Paula Souza.
É interessante notar que a mudanças de sigla não foi resultado de Decreto algum.
Hoje um prédio divide o terreno com a Escola Técnica Julio de Mesquita. Trata-se da Faculdade de Tecnologia de Santo André (FATEC Santo André). Criada como Unidade de Ensino do CEETEPS a partir do Decreto N°. 51.501, de 24 de janeiro de 2007 oferece o Curso Superior de Tecnologia em Eletrônica – Modalidade Autotrônica.
Atualmente a Escola Técnica Julio de Mesquita mantém as habilitações profissionais de Técnico em Design de Interiores, Técnico em Edificações, Técnico em Hotelaria, Técnico em Meio Ambiente, Técnico em Química e Técnico em Turismo, todas estas atendendo à LDB 9394/96, ao Decreto número 5154 / 04 e a autorização dada pelo Parecer CEE 168/98, publicado no Diário Oficial do Estado no dia 01.05.98.
Oferece ainda, desde 1998, o Ensino Médio com 754 alunos matriculados no período matutino, independente do Ensino Técnico, com currículo estruturado em três séries anuais, correspondendo cada uma a dois semestres letivos, com duração mínima anual de 800 horas e de 200 dias letivos.
 Contando com 2.473 alunos matriculados em 2008, o ensino técnico da Escola Técncia Julio de Mesquita, atende a uma clientela heterogênea, composta por adolescentes, jovens e adultos, egressos do ensino médio, cursando a segunda ou terceira série do mesmo, ou ainda, oriundo do Ensino Superior que desejam sua reconversão profissional.
Atualmente, os cursos distribuídos nos três períodos, totalizam 2.473 matriculados, sendo 754 alunos no período matutino, 764 no vespertino e 955 no período noturno. A escola atende a um público oriundo de escolas públicas em sua grande maioria, 84%, e o restante de escolas particulares, sendo que 50% dos alunos matriculados na escola já estão inseridos no mercado de trabalho e vêm em busca de uma formação técnica.
A escola tem uma área de abrangência que se estende por diversos bairros da cidade, servindo também municípios circunvizinhos como São Caetano, Mauá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, São Bernardo do Campo e São Paulo (Zona Leste).
Como pudemos ver através desta breve pesquisa a escola passou por diversos períodos e vivenciou diferentes momentos da história da educação profissional.


[1] No século XIX, a economia brasileira baseava-se quase que exclusivamente em um único produto de exportação: o café. Este, gradativamente, ganhou espaço como um bem de grande valor comercial e possibilitou o surgimento, aqui, da "single enterprise" ferroviária. Assim, em 1854, por iniciativa do Barão de Mauá, a concessão da ferrovia a ser construída foi cedida a São Paulo Railway Company pelo prazo de 90 anos. A ferrovia trouxe da Europa toda uma tecnologia inaugurada a partir da invenção do vapor, mas, aqui em São Paulo, enfrentou o desafio de vencer o grande desnível que separava o planalto paulistano da Baixada Santista, ou seja, a ligação das principais regiões produtoras de café ao seu terminal exportador, o porto de Santos. (GAIARSA, Octaviano A. 1963).
[2] A sede do Município continuaria na Vila de São Bernardo até 1938, quando por decreto do Governador do Estado de São Paulo Adhemar de Barros, provocou duas mudanças drásticas: a troca do nome de Município de São Bernardo para Município de Santo André e a transferência da sede do Município também da Vila de São Bernardo para o Distrito de Santo André. A solenidade de troca de nome e transferência de sede ocorreu no feriado de 1°. de Janeiro de 1939. O Município recebeu o nome de Santo André, ficando São Bernardo reduzido a condição de Distrito de Paz. (GAIARSA, Octaviano A. 1963).
[3] Jornalista e advogado paulista (14/2/1892-12/7/1969). Diretor do jornal O Estado de São Paulo (OESP), fundador da Rádio Eldorado (1958) e do Jornal da Tarde (1966). Filho do proprietário de OESP, Júlio de Mesquita Filho nasce na capital paulista e, aos 12 anos, vai estudar em Portugal e depois na Suíça. Em 1911 ingressa na Faculdade de Direito de São Paulo, formando-se em 1916.
Em 1915 inicia carreira no jornalismo, no Estadinho, edição vespertina de OESP, e participa da campanha pela instituição do serviço militar obrigatório, encabeçada por Olavo Bilac. Em 1919 apóia a candidatura de Rui Barbosa à Presidência da República. Assume a secretaria de redação de OESP em 1920. Em 1926 coloca-se a favor da Coluna Prestes e participa da fundação do Partido Democrático. Em 1927 assume a direção do jornal. Em 1929 apóia Getúlio Vargas para presidente e a Revolução de 1930. Rompe com Vargas e torna-se um dos líderes da Revolução Constitucionalista de 1932; é preso e depois se exila em Portugal. Volta no fim de 1933 e preside a comissão de planejamento da Universidade de São Paulo em 1934. Durante o Estado Novo, é preso 18 vezes, se exila na França, nos Estados Unidos e na Argentina. Em 1940, OESP sofre uma intervenção federal que dura cinco anos. Em 1960 dá apoio à candidatura de Jânio Quadros e, após sua renúncia, combate João Goulart. Aprova o golpe militar de 1964 e, em 1966, volta-se contra o regime autoritário. Morre em São Paulo. (GAIARSA, Octaviano A. 1963).
[4] Antiga Chácara Bastos, uma ampla área verde de 65 mil metros quadrados localizada na região central da cidade, deu lugar à Praça IV Centenário que abriga o centro cívico (Câmara Municipal de Santo André, Prefeitura Municipal de Santo André e o Fórum). (GAIARSA, Octaviano A. 1963).
[5] Publicado no D.O.E. de 06 de fevereiro de 1982 e retificado em 10 de fevereiro de 1982.
[6] O CEETEPS administra 108 Escolas Técnicas Estaduais (ETEs) e 20 Faculdades de Tecnologia (Fatecs) no Estado de São Paulo. As ETEs atendem mais de 90 mil estudantes nos níveis de ensino Médio e Técnico, para os setores Industrial, Agropecuário e de Serviços, em cerca de 50 habilitações. Nas Fatecs, mais de 15 mil alunos estão distribuídos em 20 cursos Superiores de Graduação. O CEETEPS iniciou suas atividades em 6 de outubro de 1969. Mas as primeiras reuniões do Conselho Estadual de Educação para a criação da instituição aconteceram em 1963, quando surgiu a necessidade de formação profissional para acompanhar a expansão industrial paulista.
A idéia de criar um Centro Estadual voltado para a Educação Tecnológica ganhou consistência quando Roberto Costa de Abreu Sodré assumiu o governo do Estado de São Paulo, em 1967. Em outubro de 1969, o governador Abreu Sodré assinou o Decreto-Lei que criou a entidade autárquica destinada a articular, realizar e desenvolver a educação tecnológica nos graus de ensino Médio e Superior. (GAIARSA, Octaviano A. 1963).

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